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segunda-feira, 28 de julho de 2008

"O MENINO E O VELHO. O MILAGRE DO AMOR". - Carlos Rímolo.

O senhor Perácio, com seus setenta anos bem vividos, aposentado, vive com a esposa, a filha e, o neto numa casinha num bairro operário da cidadezinha de Santa Cruz.
Nos fundos do quintal montou uma improvisada oficina de soldagens, para fazer uns biscates para completar a renda e, se manter em atividade. Sempre falava para dona Mercedes, sua esposa, que aquilo era seu elixir da vida. Um modo de ocupação de tempo.
Seu neto Tiago, de apenas quatro anos, é a menina de seus olhos e ele, além de avô coruja, um emérito contador de histórias. Sempre estavam juntos. Se amavam.
À noite, após cada história, eles rezavam juntos e ele só saía dali após o netinho adormecer, quando o cobria e apagava a luz.
-Sonhe com os anjinhos meu filhinho! Fala ele quase num sussurro ao seu ouvidinho, dando-lhe em seguida um beijo em sua face rosada com um sorriso paternal.
A filha ficara viúva muito cedo e fora morar com eles, para alegria de todos. Certo dia, o menininho adoeceu tomado por uma febre alta e incontrolável. Como os remédios caseiros tão úteis não resolveram, tiveram que levá-lo para o hospital. Após alguns exames, descobriram uma doença rara em seu organismo. Ai foi uma choradeira geral.
Diante daquela situação emergencial, os médicos, de imediato, iniciaram os procedimentos de cura. Não podiam perder muito tempo.
A partir desse dia, muito desconsolado, o avô não desgrudava da cadeira ao pé da sua cama, com o livrinho de história em suas mãos. Quando Tiaguinho abria os olhinhos, o bom velho e dedicado avô, com o coração amargurado e ferido, forjava uma alegria que não passava despercebida pelo garotinho que, em silêncio, compreendia. Nesse instante:
-Meu filhinho, vovô chegou e como sempre vai te contar histórias diferentes e divertidas! Só nós conhecemos essas histórias! Somos sócios nesse segredo! Fechado?
O garotinho, quase num sussurro por ainda estar sob efeito de medicamentos, tenta ensaiar um pequeno sorriso e responde bem lentamente.
-Fechado, vovô! Não vou contar pra ninguém nosso segredo, nem pra mamãe nem pra vovó!
O tempo passa e aquela rotina seguia seu rumo. Até que, um belo dia, a equipe médica resolve chamar e reunir a família para dar as boas novas. A infecção regredira e, o menininho, muito mais cedo do que o esperado teria alta. E para alegria de todos, o fato aconteceu. Ele já se encontrava em casa se restabelecendo ao lado de seus familiares e, sabidamente do avô. Em pouco tempo já era outro: Brincava, corria e fazia de tudo.
Quando tudo voltara à normalidade e parecia ir às mil maravilhas, é a hora do avô adoecer. Ele tinha um problema coronário e teve que ser internado às pressas também.
Tiaguinho, inconsolável, passou a chorar pelos quatro cantos da casa. O avô era tudo para ele. Não podia ir ao hospital com a sua mãe, porque ela não queria chocar seu coraçãozinho vendo o avô naquela situação. O homem ficava a maior parte do tempo desacordado a poder de medicamentos. A doença era grave e sem previsão de cura.
Mesmo pequenininho, ele era muito esperto e conseguiu seguir a mãe. Ouvira o número oito como sendo o do quarto do avô. E como o velho o tinha ensinado a contar até dez, ele saberia achar o tal quarto. Já no local, se esgueirando por entre paredes e pilastras, alcançou o primeiro andar e logo avistou o número procurado. Numa correria desenfreada e pegando a todos de surpresa, ele entrou no quarto e se aproximou da cama do avô que, por sinal, naquele momento, estava acordado. Com o livrinho dobrado sob os bracinhos, ele falou com aquela vozinha chorosa e lágrimas nos olhinhos azuis e brilhantes:
-Vô, vô, vim te contar aquelas histórias pra você ficar bom também! Aquelas do nosso segredo que me curou, lembra?
Ao escutar aquilo e, ver o netinho folhear aquele livrinho sem ainda saber ler, o ancião não resistiu e foi às lágrimas, conseguindo com muitas dificuldades respondê-lo:
-Meu filhinho querido, conte essa sua história tão linda e maravilhosa! Estou precisando muito! Você vai me curar, Tiaguinho! Conte!
-Não, vô! Eu não vou curar o senhor! Esqueceu? É a história, é ela! É ela que cura! A mesma que fez eu ficar bom, lembra? Retruca o menininho exibindo um sorriso inocente de felicidade em seu rostinho, atento e, folheando as primeiras páginas do livreto.
A avó e a mãe do garotinho vendo aquela cena emotiva resolvem, a partir dali, a levá-lo em suas visitas, deixando assim o menininho e seu avô radiantes.
Para nova surpresa de todos, alguns meses depois, o quadro do paciente apresentava acentuadas melhoras. Como estava bem debilitado e desenganado, os médicos ficaram sem entender essa franca recuperação em tão pouco tempo e, passaram a creditar o fato a milagres.
O homem então logo recebe alta e, agora, por imposição de Tiaguinho, passaram a se revezarem nas narrativas, porque essas histórias, as do segredo, não os deixam adoecerem.

terça-feira, 22 de julho de 2008

"MINHA DEUSA MORENA - A conquista" - Carlos Rímolo

Morena que meus olhos beijam,
Cuja beleza meu coração desperta,
Fazei desta minha paixão os teus anseios,
Para como um poeta em seu puro devaneio,
Possa cantar para você lindos poemas em versos!

Quando a vejo linda e formosa a minha alma acariciar,
Com o toque sutil dos teus encantos e beleza a me perfumar,
Aí, deleito-me na poesia e me embalo nos braços da imaginação,
Busco nos teus lindos olhos, no teu negro olhar,
A fértil fonte de meus versos, a doce inspiração!

Quem sabe hoje juntos já possamos pela vida caminhar,
Pelas estradas a fora compartilhando nosso amor,
De mãos dadas e felizes por esse mundo a vagar,
Você linda ao meu lado como a mais bela flor,
E eu, apaixonado, já não precisando mais sonhar!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

"CONFISSÕES DE UM SUICIDA" - Carlos Rímolo

Choro a triste noite embriagada pela vil escuridão,
São lágrimas d’alma que mostram este meu sofrimento,
Ao ver um céu despido de lua e estrelas, em sua imensidão,
E minh’alma sem rumo embalada ao sabor do açoite do vento,
Atormentada e atolada neste meu novo mundo de solidão!

Todos os dias cumpro esta triste rotina de a esmo vagar,
Levitando e navegando por nuvens brancas de minha imaginação,
Trilhando por espinhosos caminhos, ansioso, louco e perdido,
Na busca de algo que eu mesmo desconheço e em vão,
Eu era apenas mais um infeliz que tinha se precipitado e partido!

Hoje, aconchego-me na verde relva e não descanso,
Olho águas tranqüilas e já não vejo remansos,
Por todos os lugares aonde vou sempre me perco,
Corro alucinado pelas campinas, mas nunca chego,
A minha face é corroída pelas lágrimas do pranto.

Desesperado, procuro uma igreja, mas não sei rezar,
Ando com os pés desnudos, porque não posso calçar,
Sinto todo esse pesadelo por não poder mais sonhar,
Por um infortúnio que só agora enfim pude sentir,
Quando num momento de fraqueza minha vida consegui tirar!