ALFREDO ALOÍSIO, O AZARENTO.
AlfredoAloísio, malandro e 171, fora admitido como entregador numa loja de flores. Passava o dia todo na rua embromando, entregando uma florzinha aqui, outra acolá e, assim, seguia mais feliz do que pinto no lixo. Estava no paraíso.
Naquele tempo uma gripe asiática matava centenas de pessoas no mundo e, os avisos na mídia eram freqüentes e diários, mas ele nem dava bolas para isso, estava numa boa.
Certo dia mandaram-no entregar vinte dúzias de rosas na cobertura de um prédio de trinta andares. Lá chegando, já no elevador, foi logo cutucado com impertinência:
-“A sua pessoa” do florista por acaso trabalha em alguma funerária, irmão”? Pergunta um negão fardado, cheio de alegorias na roupa e, chefe daquele transporte ali.
Alfredo Aloísio que, encontrava-se abraçado àquela enorme quantidade de flores mal conseguindo se locomover e enxergar seu interlocutor, responde meio ofegante:
-Não, vim só entregar essas flores para a festa no apartamento da dona Doralice Olívia, que faz cem anos de casada com o senhor Adroaldo Oscar, “tas sabendo amizade”?
Nisso, uma velhinha desgastada pelo tempo e pela maresia, resolve dar a sua pincelada:
-Já to casada há oitenta anos com o vagabundo do Custódio Fábio e, o único presente que ganhei até hoje foi uma penca de filhos, quarenta e cinco meu filho, quarenta e cinco!
Com o elevador botando gente pelo ladrão e, subindo a passos de tartaruga, o forte odor das flores faz com que Alfredo Aloísio que, se encontrava com elas imprensadas junto ao rosto, ameaçasse um espirro. Pra quê?
- Acho que a pessoa do irmão deve ter respeito a nós e, segurar essa sua “bactéria gripal” para não atacar a gente, “tas sabendo” amizade? Ameaça o negão comandante do transporte, com um olhar injetado de ódio para ele, doido para começar uma carnificina ali.
Um magricela baixinho, que era “diretor geral do almoxarifado” de uma sorveteria da esquina, resolve botar mais lenha na fogueira e acirrar ainda mais os ânimos:
-“O pior, é se essa “bactéria assassina” dele for parenta daquela pestilenta “asiática”, aí a cobra vai fumar, pois vai matar nós todos aqui sem direito a último pedido nem testamento!”
-Não vai acontecer nada disso meu chapa, pois a pessoa do irmão tem amor a sua pele e, não vai querer subir mais cedo pra encontrar o criador, não é isso maninho? Rebate o negão novamente com uma voz pastosa e raivosa, infernizando a vida do pobre Alfredo Aloísio que, tremia mais do que bambu verde em ventania.
Sem responder, o malandro se esconde cada vez mais atrás das flores já pensando nas trágicas conseqüências de um provável espirro ali. Sua frio e permanece em silêncio, enquanto seu nariz continua coçando querendo antecipar a tragédia.
O negão insiste:
-Continuo achando que a pessoa do irmão devia ir pela escada para evitar a morte desses inocentes com esse seu “vírus mortal”!
Já com a “cueca toda borrada”, ele se estica e, consegue ver por cima das flores, as caras agressivas dos ocupantes daquele cubículo apertado e hostil. Treme na base e se encolhe em silêncio, sem se esquecer de conter a todo custo o fatídico espirro.
Mas eis que, num balanço inesperado e imprevisível, para sua desgraça, o pior acontece. De imediato aquela turba enfurecida chefiada pelo negão fardado o pega e, lhe dá tanta porrada, mais tanta porrada que, agora, despejado no quinto andar todo quebrado, desacordado e ladeado de flores, ele fica como um presunto a espera do rabecão.
1 Comentários:
Chamo-me Charbell Kury, sou médico pediatra e colega de trabalho do Sr. Carlos Rímolo em Macaé. Profissional dedicado, o supra sumo da prosa e da poesia, carater ilibado e sensibilidade marcante, sempre encontra nos subterfúgios da alma humana questionamentos nunca antes imaginados pelo senso comum. Permite-nos transitar nas sinuosas curvas dos sonhos, e nas jenelas do inconsciente com rara destreza, uma grande aquisição para o blog.
Por Unknown, às 20 de março de 2008 às 16:08
Postar um comentário
<< Home