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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O MALANDRO LARANJA


Perosvaldo Cláudio, famoso 171 e malandro do pedaço, apareceu no morro do rato pelado montado num pomposo terno xadrez e uma gravata borboleta. “Uma figuraça”.
Um gordinho dentuço que, era segurança de uma carrocinha de arroz doce na área, resolve provocá-lo:
-“Assaltaste algum defunto, irmão”?
Seu tolismaldo Pedro, um açougueiro brutamontes beiçudo e cachaceiro, também interfere:
-“A pessoa do “bacon ambulante” ta com razão, deve ter sido assalto de morto mesmo!”.
Para evitar mais acirramentos de ânimos, o encadernado se pronuncia.
-Eu apenas peguei emprestado, só isso! Não importa se foi no cemitério ou não, “tas sabendo”?
-“Vais ter coragem de deixar a pessoa do defunto chegar pelado e com frio no céu, irmão”? -Pergunta o comerciante de carne e católico extremista, com um mau hálito de escorraçar urubu de matadouro.
-Para onde ele vai só se usa sunga vermelha porque é muito quente e, ele não vai subir, vai descer, morou? -Responde o meliante.
O cara tinha recebido um inusitado telefonema de um conhecido político da comunidade para se vestir bem e, ir pegar uma grana arrumada no Banco “Reral” e, com isso morder uma comissão de “cem Zinho”. Topou na hora. Sem roupa adequada, teve que prometer uma grana ao coveiro para conseguir uma emprestada de alguém do além.
Como conhecia bem a área onde pegaria a grana encomendada que era onde dava seus golpes, chegou bem cedo e, logo estava frente a frente com o gerente.
-“Escuta aqui amizade, meu deus do Olimpo da grana, por acaso tens o nome do senhor Perosvaldo Cláudio, que é a minha pessoa, em sua relação de mensalão, buracoduto, propinuto ou valerioduto, irmão”?
O outro que também mamava na teta, pergunta num cochicho:
-Por acaso és o laranja do doutor Ladronildo, meu chapa?
-“Não sou fruta nenhuma, sou apenas afilhado do homem e quero a grana, tas sabendo? Senão abro o bico, morou amizade”?
Não demorou muito e ele recebeu o embrulho que, dizia ter “trezentos Mil Zinho”, mas o larápio do gerente tirou a sua comissão de “cinqüenta Mil Zinho” às escondidas, sem que o outro desconfiasse.
De posse do volume saiu logo dali com ele debaixo do braço, mas ao pisar a calçada deu de cara com uma “Blitz”. Mais que depressa, retirou os seus “cem Zinho” dali e o engoliu para garantir, e colocou o restante na cueca. Aí...
-Escuta aqui “bambu enfeitado”, “pavão de quarentena”! Por acaso estás escondendo “algum”? - Pergunta-lhe um policial raivoso que não fora com a cara do malandro.
Como ele tremia de medo e, não respondia, foi encaminhado de imediato à delegacia para a revista.
Lá, já peladão, chorava como uma criança, pois fora pego com o papel do embrulho com o valor manuscrito, dobrado também dentro da cueca, que não batia com o dinheiro encontrado. A coisa piorou mais ainda, quando soube que o delegado possuía uma cópia da tal relação e, sabia o valor do saque e, como não conferia, acharam que ele engolira a diferença, aí que a cobra fumou.
-Soldado Terrorzildo, toca “lacto purga” no malandro que ele engoliu o resto da grana! - Rosna o delegado. -Se não sair, a gente esvazia ele. - Completa, com um sorriso debochado e maldoso.
O homem tremia, chorava, apelava, mas os caras passaram a empurrar-lhe o laxante em doses cavalares.
“Lá pela décima garrafa, já com as tripas vazias, num momento de alívio, o indivíduo cospe por baixo a nota de cem Zinho” em forma de canudinho. Pra quê? Foi uma alegria geral.
-”É isso aí irmão, agora só faltam “cinqüenta mil Zinho” e, o seu cofrinho deve estar cheio porque ta vindo a prestação! Só vamos parar agora quando sair o último centavo! Achamos a mina, dotô”! - Gritava e pulava de alegria o carcereiro torturador.
Nesse momento já crítico, nosso personagem mais mole que maionese vencida, apaga, enquanto que, o policial, agora de posse de um potente aspirador de pó, passa a sugá-lo para tentar reaver o restante da grana existente, para total desespero de sua alma que, a esta altura, de malas prontas, já se prepara para encontrar o “Criador”.

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