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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

AS AVENTURAS LIBIDINOSAS DO VELHO ADOLFO


Essa pequena história que vamos narrar se deu lá pelos idos da década de 60. (...) O velho Adolfo que, no passado despertava paixões alucinadas nos corações das donzelas e matronas, se sentia, ali, naquele momento, um morto para a vida. Esquecido naquele pequeno quarto, ele apenas se alimentava das lembranças de suas peregrinações quando jovem pelos meios femininos e, sorria quando se lembrava da legião de cornos que deixara pelo caminho.
Fora um cigano dos lençóis alheios, grande amante, mas, agora, com seus 70 anos, parecia um caco, imprestável. O tempo não havia sido generoso e, tinha maltratado bem a sua carcaça, deixando-lhe apenas lembranças. Só lembranças.
Lembranças generosas e felizes dos seus memoráveis tempos de garanhão. Dos grandes bailes, onde era conhecido como “pé de valsa” pelos seus rodopios nos quatro cantos dos salões. Ele bailava parecendo flutuar diante das melodias, para deleite das damas e inveja dos cavalheiros. De repente...
-Adolfo, hoje eu vou receber a filha da Edite, minha amiga, que vem passar uns dias de suas férias escolares com a gente! Seu nome é Tainá! Ouviu?
Ele, de sua cadeira de balanço, naquele pequeno e escuro cômodo da casa onde pitava um velho e esgarçado cachimbo, apenas emitiu um sim.
-Quero avisá-lo para que se controle! Não quero que se repita o que aconteceu com a Raimunda, nossa empregada, quando você a agarrou na cozinha! “Ta sabendo”, velho safado? Espinafrou ela rispidamente.
Ao se considerar ofendido, ele resolveu quebrar o silêncio e se defender.
-Não foi nada disso não, Filomena! Você sabe, ela estava grávida e ia cair quando a tomei nos braços para evitar o pior! Só isso, mulher! Que mal há nisso?
- Você a pegou por trás, piolhento, se aproveitando de seu farto traseiro!
-Eu apenas a segurei para que ela não caísse de costas e se machucasse!
-Com medo que ela perdesse o seu filho que levava na barriga? É isso?
-Você está exagerando, minha velha, está exagerando! Eu te juro que o “moleque” era do leiteiro! Ele é que vivia com uns “amassos” com ela, querida!
-Bem, só estou lhe avisando! Se por acaso isso acontecer de novo, velho ordinário, para seu bem, pode rezar por sua alma que seu corpo já era! Só isso!
Após aquele curto e feroz discurso, a esposa se retirou para a cozinha para preparar o almoço, deixando agora, ali, curioso, o velho Adolfo pensando alto:
-Que diabo de moça é essa que vem para cá? Deve ser daquelas boas e fogosas que despertam o desejo da gente só no olhar, só pode ser! Que venha! Completa ele sorridente, se esquecendo de suas precárias condições física e, daquele ser, agora moribundo, que carregava inutilmente entre as pernas.
Não demorou muito para se ouvir a campainha tocar e a velha abrir a porta.
-Tainá, minha filha, entre! Falou ela de braços abertos e sorrindo.
-Dona Filomena, como vai a senhora? Não vim incomodá-los? Pergunta a moça, de posse de duas pequenas malas e, já vendo o velho de longe a comendo com os olhos. Um curto corredor de ligação permitia vê-lo.
-Que nada minha jovem, é um prazer acomodá-la em nossa casa! Deixe a bagagem aí que eu a levo depois para seu quarto! Venha conhecer o Adolfo!
Como o homem já havia se adiantado e estava ali, é feita a apresentação.
- Bom dia linda jovem! Seja bem vinda em nossa casa! Cumprimenta ele abraçando-a demoradamente. -Nós esperamos que a sua estadia aqui seja longa e prazerosa! Completa ele com os olhos cheios de cobiça.
-Eu estou muito feliz em estar aqui! Mamãe falou que são ótimos! Fala a bela moça de seus 18 anos, de corpo escultural e insinuantes curvas. Um “mulheraço” para delírio do velho Adolfo. Ele acertara na mosca.
Semanas se passaram e, então a vida mudou drasticamente naquela casa. O velho começou, às escondidas da mulher, a dar em cima da jovem. Mesmo sabendo de suas limitações, ele insistia. Como algo seu aparentemente morto parecia ressuscitar na presença da moça, ele se animava cada vez mais.
A moça, de tanto assédio não resistiu ainda mais que, embora nova, era carente e fogosa. Sua meiguice e gestos aparentes não condiziam com a realidade. Ela era um barril de pólvora prestes a explodir. Um poço de desejos.
O velho Adolfo, com a sua perspicácia e experiência, só esperou o momento certo para dar o bote. E isso se deu quando a sua mulher foi ao açougue e ao mercadinho e os deixou sozinho.
-Venha minha flor do campo! Venha pro titio, venha? Venha?
-Calma, seu Adolfo calma! O senhor vai agüentar? Pergunta ela fingindo resistência, mas toda fogosa, já se sentando em seu colo com o bumbum empinado e, aquelas coxas alvas e apetitosas. O homem tremia todo, mas mesmo com a bandeira a meio pau ele avançava. Sentia-se o senhor da guerra e queria a vitória nessa batalha.
-Venha apagar o fogo do titio Adolfo, venha filha? Estou mais aceso do que rastilho de dinamite prestes a explodir, venha, venha? Sussurra ele todo saliente na ausência da mulher, dando vasão às suas libertinagens.
E sem que a velha desconfiasse de nada, por meses eles mantiveram esse romance até que, por um descuido deles, a jovem engravidou. Pensando no pior, em comum acordo e, como válvula de escape, resolveram botar o antigo leiteiro na jogada. E assim, numa manhã de domingo quando a velha foi à missa:
-Josué, Josué, velho amigo! Gritou Adolfo acenando da porta da casa para o entregador de leite. Venha cá? Tenho uma boa notícia para você! Completa.
O homem se aproximou e logo foi envolvido pelo seu papo que finalizava dizendo que, a jovem Tainá morria de amores por ele, mas tinha vergonha de se declarar. Como era uma linda mulher, foi fácil o convencimento. O matuto de olho gordo na sua beleza e possível riqueza topou a parada. Em pouco tempo se deu o namoro. O velho era todo sorriso, pois se livrara de uma paternidade indigesta, como também matava dois coelhos com uma cajadada só, ou seja: o filho da empregada e o da jovem já tinha um pai encomendado, o pobre leiteiro.
Dois meses depois, na presença de Adolfo como acordado, a moça avisou à velha que engravidara e quem era o pai, quando então, o homem, ali, resolveu subir nas tamancas e recuperar seu prestígio e honra, desafiando a mulher:
-Sabe Filomena, eu até podia pedir indenização por danos morais pela sua falsa acusação de eu ser o pai do filho da Raimunda! E agora? Foi ou não foi o leiteiro? Veja o que ele fez com essa inocente criança? Uma criança “buchuda”!
Sem responder e raivosa, a mulher saiu dali e foi dar a triste notícia à amiga e mãe da jovem. E assim, meses depois, se deu o casório para alegria e alívio do velho Adolfo que, como previra, saíra tudo como planejado. E assim, anos depois, já falecido e dentro de um caixão, o velho continuava a aprontar. Ali, rodeado por uma legião de mulheres que o velavam para surpresa da viúva chorosa, junto, uma bela donzela de corpo escultural e estonteante, jurava que vira o defunto dar uma piscadela para ela.
Pelo andar da carruagem, para onde fosse a sua alma, subindo ou descendo, o velho Adolfo carregaria para o além a sua incontestável fama de mulherengo que, já trouxera de berço e que, levara durante toda a sua vida.
Diz o povo de Canela Seca, cidade do agreste pernambucano onde ele nasceu e viveu que, para desesperos de pais e parentes, até hoje, na lua cheia, aparecem jovens “buchudas” engravidadas pelo espírito do velho Adolfo.

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