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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O CARTÃO CORPORATIVO


O Chefão da Comunidade do Planalto e, seus asseclas diretos estavam adorando a farra que estavam fazendo com aquele pedacinho de plástico que, para eles, nada mais era do que uma “mina do rei Salomão ambulante”: cheio de grana, inesgotável e, só deles.
-Não é que esse cartãozinho é danado de “bão”, chefe? Vou fazer uma festa arrumada com ele na “birosca” do companheiro Aloísio Pedro! Traçar um baião de dois, tomar umas branquinhas e, quem sabe, não sobra “algum” para uma fezinha? Fala um deles enquanto jogava uma “purrinha” com os recursos do abençoado cartão.
O dono da favela, um baixinho barbudo e atarracado que, fora criado comendo calango com jerimum no ex-morro do nordeste e, acostumado desde criança a andar de jegue em parquinhos de diversões, encadernado com uma camisa da Fiel, solta a tão esperada decisão para alegria daqueles puxa-sacos que o rodeavam:
-Companheiros, é para gastar mesmo! Temos que mamar nessa teta! A vaca está gorda e botando (leite?) pelo ladrão! Vamos aproveitar a mamata! Vamos à luta!
-Sabe a primeira coisa que vou fazer chefinho? Sabe? Pergunta uma mulher gorducha, mas de confiança do homem, com a cara toda lambuzada de algodão doce.
-Companheira Matildinha, o negócio é torrar com qualquer coisa! Não me interessa o que a companheira vai fazer! Tem que gastar! – Rebate o alegre manda-chuva.
-É que sonhei com o macaco e vou fazer uma “fezinha” nele, “Tas sabendo?” É só mostrar esse tal cartão no boteco de “seu Benício Antonio” que a gente faz misérias! Mês passado fiz umas 100 apostas, companheiro! Fala a mulher mais feliz do que pinto no lixo.
-Chefinho, o senhor vai dizer quanto tem de grana aqui dentro dele? Pergunta um magricela negro e narigudo, com os olhos brilhantes de cobiça, mostrando seu cartão. -É porque eu quero visitar um meu ancestral na África! Lá, para onde o senhor viaja sempre para pedir desculpas, sabe? O tal lugar dos escravos? Completa o cara.
-Sabe chefe, lá em casa tem penosa todo dia no almoço, no lanche e no jantar! “Ta dando” até para pagar a aula de balé do Adroaldinho júnior e fazer também umas “fezinhas”! “To” pensando até em ir para “uma tal” de “Nas Vegas” gastar mais um pouco! Fala outro, dando um “brilho arrumado” no cartão com uma flanela de algodão.
O Chefão que tinha umas dez dúzias deles no bolso, de valores sabidamente ilimitados, sobe num caixote de “sabão Mossoró” para melhor vê-los e, procura dar algumas explicações. Inicia um pequeno discurso diferente daquele que todos esperavam.
-“Companheiros e companheiras, ninguém nesta Comunidade fez mais por ela do que eu! Veja as nossas criancinhas pobres como estão barrigudinhas com o “Fome Zero”? E, não são lombrigas não! Fui eu quem abriu a torneira do gás da favela vizinha e também sou sempre o primeiro a falar na ONU! Sabem por quê? É porque somos importantes! Eu mandei nosso primeiro homem ao espaço para conhecer o céu, São Jorge e o tal buraco negro, enquanto nossos vizinhos ficam vendo só de lunetas! Nosso poderoso exército está mantendo a ordem na potência que é o Haiti e, guarda nossas fronteiras contra a invasão das temíveis e perigosas favelas Boliviarianas e Venezuelarianas! Finalizando, companheiros, as empresas estrangeiras que vem pra cá são para aprender com a gente, companheiros, não levam um tostão daqui e,..blá...blá...blá, etc.!”
Nisso, um dos que ali o assistia e não via no discurso nenhuma relação com os tais cartões corporativos, resolve interrompê-lo e, fazer no mínimo uma pergunta extravagante:
-Chefinho, eu posso comprar com ele um foguete pra conhecer o céu também? Eu quero ver São Jorge, o cavalo e, pedi a benção ao meu “padinho padi” Cícero, posso?
-Meu filho, meu companheiro! Você “ta com a serra pelada” nas mãos! Use e abuse! Responde o político baixinho esfregando as mãos seguidamente sob aplausos.
A partir dali, o senhor Alfredo Benedito, autor da inusitada pergunta, beijando seguidamente seu cartão milagreiro, já devorando um “sanduba” de mortadela à custa dele, sai à procura do seu Ariovaldo Frederico, do ferro velho do morro, para encomendar o tal foguete, mais feliz do que ganhador de bilhete premiado.

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