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terça-feira, 11 de março de 2008

O FALSO AGENTE SANITÁRIO

Aloísio Raimundo apareceu na favela do “bode cheiroso” mais feliz do que ganhador de bilhete premiado. Estava encadernado num macacão amarelo, com um par de luvas pretas surrupiadas de um gari e, uma carteirinha falsa de agente sanitário para mais um de seus golpes. Conhecido malandro, larápio e picareta, pensara muito nesse plano ao ver na televisão do vizinho, o resultado de “uma tal” peste aviária e, resolvera tirar vantagem com isso.
-És malandro, a partir de hoje irás “forrar o bucho” e não mais passarás fome!“Tas sabendo”? –Pensa ele alto alisando a barriga, lembrando da criação de galinhas gordas e apetitosas do senhor Adroaldo Josué, cevadas com rações importadas que, sapateavam pelo seu terreiro ali no morro.
Como andava sempre esfomeado, quando passava pela casa do homem e via aquelas penosas robustas e vitaminadas, seus olhos gordos cresciam e a barriga nervosa roncava. Nesse dia pensou numa forma de passar a perna no dono e torná-las parte de seu repasto.
Agira rápido e logo estava frente a frente com o homem, um negão mal encarado, brutamontes, que era um pugilista peso pesado aposentado e foi logo soltando seu “lero” meloso:
-“Escuta aqui amizade, por acaso as suas penosas gozam de algum plano de saúde”?
-Posso saber quem é “a pessoa do irmão” que quer saber disso? -Pergunta rosnando o cara, com os punhos cerrados, encarando a figura esquisita à sua frente.
-Aloísio Raimundo, o agente aviário, seu criado, meu camarada! O defensor-mor das penosas desamparadas, irmão! -Responde o meliante dando sua “carteirada” falsificada.
-Não tem plano de saúde não, mas o que “a pessoa do irmão” deseja das minhas filhinhas?
-Ora, ver se elas tão com a tal gripe aviária, “tas sabendo”? Um espirro de uma pode matar todas, irmão! Até a gente, amizade! É muito grave!
-E se estiver irmão, como é que fica? As minhas filhinhas vão falecer? Vão pro céu?
-Ainda não amizade, mas terei que levar as “bichinhas” para a tal “quarentena” para elas não matar “de morte morrida” as criancinhas inocentes e os velhinhos, “morou”?
Após muito papo convencera o negão que, com olhares odiosos, mas temerosos, filmava o malandro na escolha e ensacamento das galináceas. E assim foi por muito tempo até que, com o seu quintal se esvaziando, o homem desesperado e também desconfiado, resolveu pegar um “cata corno” e ir a cidade saber a verdade. Não demorou muito e já retornara sabendo que levara uma volta “arrumada”. Agora, babando de raiva e louco para encontrar o espertalhão, dirigiu-se ao barraco de Aloísio Raimundo. Lá chegando, para piorar a situação do malandro, ouvira o grito alucinado de uma de suas galinhas e, ao aproximar-se da janela escutara:
-Não adianta gritares “belezoca”, morrerás, mas “irás” para o céu conhecer o criador, “tas sabendo”? Vais subires e morar com os anjinhos que tem asinhas como você, morou? “Vais para o paraíso e lá encontrar as suas irmãzinhas que já se foram, é isso aí”!
Não agüentando mais ouvir aquilo, o negão tremendo e arrepiado, babando de raiva e olhar assassino, como um trator adentrou aquela imundície de barraco. Agarrou o pilantra pela garganta e deu tanta porrada, mais tanta porrada que, ao final, os vizinhos acenderam velas em torno do que restara de seu corpo, enquanto que, num canto, seu anjo da guarda que não o protegera, rezava para ele não subir.

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