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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"INUNDAÇÃO" - Carlos Rímolo.

O vento embravecido, raivoso, açoita o efêmero tempo,
Como fera ferida violentada naquele vil momento,
Da minha janela eu parecia um frágil animal assustado,
Vendo aquelas ferozes águas caírem sem contemplação,
Eram chuvas, fortes chuvas que lá fora molhavam a escuridão,
E eu, ali, como se estivesse preso a grilhões, enjaulado!

Chegava aos meus ouvidos o rugir forte e selvagem do trovão,
Que se propagava arrebatador naqueles céus em imensidão,
Já surgia também cortando os ares, o intrépido raio ameaçador,
E aquele cenário triste cada vez mais parecia ali aumentar,
Já não se via mais luzes nos postes, o mundo parecia enfim acabar,
Só nos restando agora em lágrimas rogar preces ao nosso Senhor!

Aquelas águas, agora rios de lama raivosamente a tudo arrastavam,
Sem dó nem piedade à mortalha multidões elas levavam,
Nas encostas dos morros os escombros mostravam a triste situação,
Daquela gente dantes alegre, ora sofrida pela vil catástrofe a chorar,
Suas perdas, suas vidas que mais agora poderiam almejar,
Com a sua alma ultrajada e ferida de morte no coração?

Três dias após, surgia um cálido sol detrás das nuvens negras, radiante,
Trazendo alguma esperança àquele povo naquele exato instante,
Onde alguns mais confiantes então foram tomados pelo choro da emoção,
Eu, com lágrimas nos olhos, compartilhava também daquela fugaz alegria,
Abraçava a todos, a toda aquela gente que, como eu, no fundo ainda sofria,
Que estava agora sorrindo com a alegria da esperança no coração!




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