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quinta-feira, 22 de maio de 2008

"O ABANDONO" - Carlos Rímolo

Onde estás neste momento? Onde te escondes?
Por que tão brusca saída?
Em meus sonhos ainda mora teu abrigo,
Mas meu coração está a perigo,
Por não conseguir suportar a tua partida.
Por que me puniste com tão vil castigo?
Busco-te!
Estás tão distante, mas tão próxima,
Agora não posso te tocar nem te ter.
Mas ainda a vejo aconchegada em meus braços,
Com teus lábios sedentos colados aos meus,
Teu corpo trêmulo procurando meu corpo,
Tuas mãos lépidas e afoitas por ele navegando,
Descobrindo em cada toque o efêmero prazer.
Mas tudo isso passou, agora é pura ilusão,
Ando perdido pelas ruas, na contramão,
Como um cego, caminhando a esmo sem ver,
Revivendo alguns belos momentos na minha imaginação!
Busco-te!
Uma tempestade parece assolar minh’alma,
O meu dia virou escuridão!
Algo parece devorar as minhas entranhas,
Tudo em mim parece desmoronar,
E eu insistente e determinado a te procurar,
Pelas estradas da vida sem um rumo certo a seguir,
À procura de alguma coisa, um sinal qualquer,
Que possa trazê-la de volta pra mim!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

"O INVASOR DE TERRAS ALHEIAS" - Carlos Rímolo.

Augusto Argemiro fora demitido da “Associação dos chifrudos indefesos” da favela da Macumba, onde exercia o pomposo cargo de conselheiro dos “galhudos” chorões. Pai (?) de vinte filhos, ele morava numa “kitinete” com a dona Eutília Beatriz e seus rebentos. Estava agora na rua da amargura sem um “puto” no bolso, mais duro do que filé de bode de terceira.
Pelo seu elevado grau cultural, logo descobre a sua nova vocação: “Capinador de quintal” e, esse serviço tinha que ser para ontem, já que estava com fome, liso e desesperado.
Nesse dia mesmo, com sorte, conseguiu alguns serviços para o dia seguinte.
O homem acorda pela madrugada com o primeiro canto do galo do vizinho que, antes quase fora parar na sua panela. Pega uma enxada enferrujada, um “sanduba de mortadela vencido” há um mês, um cantil que fora de seu tataravô na primeira guerra mundial e, uma velha e poida barraca de praia mais furada do que fila de INSS. Após tudo isso, foi à luta.
Como os meios de comunicações viviam noticiando as invasões de terras, o pessoal dali passou a desconfiar dessas andanças dele pelos quintais alheios. Num desses dias...
-Por acaso, “a pessoa do irmão” não é esse tal de invasor de terra que fala na televisão, um tal de MST? Pergunta um negão abrutalhado, mais fedido do que latrina de quartel, dono de um ensebado carrinho de “churros” que transitava por ali.
Augusto Argemiro cansado, suado e vergado com as ferramentas de serviços às costas, dá uma pequena parada, olha para o outro e chateado responde meio rispidamente:
-Não...não e não e não interessa! “Tas sabendo”?
-Bem, só “to falando”, porque vejo a pessoa do irmão acampada nos terrenos dos “ôtros”, e as pessoas dos donos pode não gostar de perder “as sua terra” para o irmão!
Nisso, um magricela espigado que vendia geladinho de cachaça na favela atiça o papo.
-É sim seu Otacílio Geremias, é sim! “Ôtro” dia vi ele no quintal do seu Armando Joaquim, acampado e tudo, com direito até a bandeira...eu vi! Tinha até barraca!
Com medo de toda aquela “muvuca” que estava se formando ali, ele tenta justificar:
-Eu só capino quintal pessoal, a tal bandeira é a minha camisa, “tas sabendo”?
Dona Lucinéia Apolinária, bem acabadinha, com a sua língua afiada atiça ainda mais:
-É invasor sim, ele vive no quintal dos outros! Meu Frederico Adalberto passou fogo num deles na noite passada em nosso quintal, com acampamento, enxada, bandeira e tudo!
Nisso, num descuido, ele escapara dali, mas ouvira o recado fúnebre que vinha de trás.
-Se a pessoa do irmão invadir meu quintal ou das pessoas dos amigos, vai subir mais cedo, “tas sabendo”? Rosnou o negão raivoso, com os olhos injetados de álcool e sangue.
Entendido o recado sumiu dali. Mas para sua infelicidade, dias depois recebera uma grana irrecusável para um serviço ali. O quintal era numa zona de atrito, pois fazia divisa com o terreno do negão e do outro com um assassino que cumpria pena em liberdade condicional. Como estava sem grana e fome, topara a empreitada. O destino abrira a sua cova, pensara ele.
Ele não conseguira dormir naquela noite e, em seus pesadelos via uma “carnificina arrumada”, e, depois, a sua alma com asas planando nos céus, sob os acordes de uma “harpa” celestial. No outro dia já trabalhando, o seu pesadelo virara realidade...
-Corre seu Otacílio Geremias, corre, o homem já invadiu e “ta tomando” posse..! Até “ta plantando”, venha antes que o seu Azambuja Raul fique sem um só pedacinho de terra? Ande...ande...depressa! Gritava a velha fofoqueira que torcia pelo massacre.
Ouvindo a gritaria, o negão furioso e “bufando pelas ventas”, colérico, pula a sua cerca e cai de cacete em cima do pobre coitado, que agora, todo quebrado numa cama de hospital, de posse de uma folha de classificados de um jornal, com um olho só já que o outro já era, procura uma outra atividade menos arriscada para fazer seus bicos.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

"O AMOR"

O amor é fogo que arde sem ver,
É o belo que fulminante acontece,
É a luz da vida, o viver,
É a felicidade que nunca se esquece!

É a explosão de um coração que enlouquece,
É onde tudo começa a ferver,
São os carinhos de mãos que nos apetece,
É na volúpia o sexo e o prazer!

É nosso corpo em chama que floresce,
Como uma rosa formosa ao nascer,
Que libera todos os seus encantos e nos envaidece!

É algo lindo e de raro esplendor,
Que às vezes machuca e faz doer,
É o sentido da vida...é o amor!

sábado, 10 de maio de 2008

"O DESPERTAR DO POETA"




Ó brisa que acalenta meu corpo e meu rosto beija,
Ora adormecido na verde relva liberto a sonhar,
Faça com que ao despertar, meus olhos esse mundo veja,
Mas com o olhar puro d’alma e não apenas de uma visão,
Para que eu continue a vislumbrar toda sua beleza,
Divagando pelos caminhos férteis da minha imaginação.
E quando pelos seus açoites mágicos enfim eu acordar,
Então possa cantar em prosas e versos esse meu olhar,
Descrevendo cada momento da vida, cada beleza, cada emoção,
E assim, como um simples poeta pelo mundo no seu caminhar,
Sentindo a mãe natureza tocar e se aconchegar em seu coração,
Possa continuar a ter essa liberdade de poder sonhar.


quarta-feira, 7 de maio de 2008

"MOMENTO LÚCIDO DE UM POETA LOUCO"

Sou louco, insano, maluco, doido, não importa,
não penso, apenas falo!
Choro a tristeza, desdenho a alegria,
vivo preso, falta-me a liberdade!
À vezes lágrimas beijam a minha face,
pois minha’lma ainda clama por alforria!
Vejo grilhões em minha mente,
acorrentando esse coração doente,
porque sofro nesta vida cada momento,
são chagas feridas, um tormento!
Sou louco!
Bato, apanho, grito e me desespero,
Pra que? Não ouvem, sou louco!
Vivo atrás de grades, vejo alucinações,
imploro ajuda, mas nem ligam!
Sou louco!
Não me interesso por notícias,
passo ao largo do mundo,
não tenho a consciência,
vivo a demência!
Sou louco!
Estou sempre me debatendo,
como um animal feroz acuado,
pouco a pouco meu corpo vai morrendo,
vendo meu espírito ferido agonizar.
Para que a minha existência,
se não tenho liberdade nem para pensar?
Sou louco!
Meu dia é minha noite,
quando posso relaxar, mas
vivo constante pesadelos,
pois não me cabe mais sonhar!
Hoje com a minha sina já traçada,
sou um débil aprisionado,
que tenta ainda um suspiro de vida,
mas sinto-me só e abandonado!
Bem, sou apenas mais um louco, somente um louco,
um zumbi, um lixo, um inoperante,
um paria, um farsante,
Sou tudo e não sou nada!
Sou louco!