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quarta-feira, 30 de abril de 2008

"A GRANA MALDITA" - Carlos Rímolo.


Marcelo Adualbo vagabundeava, como sempre, pelas ruas do beco do morro da lagartixa, quando, em dado momento, deparou com uma nota de “Cinquinho” no chão livre e desamparada. Como era horário de almoço e, sua barriga vazia apitava mais que a famosa “Maria fumaça”, entusiasmado com aquela sorte de ocasião, solta a pérola:
-Tu vens em boa hora “belezoca”! Vais financiar um “rango arrumado”, “falô?”.
Ele tinha acabado de levar um pontapé no traseiro, da dona Honorina Beatriz, sua sogra, após comer e viver à custa da velha na condição de turista forçado. Agora, na rua, com fome e com o estômago regado apenas a cachaça, o infeliz resolve entrar numa fila quilométrica de uma birosca travestida de restaurante a quilo na Comunidade.
-À sua retaguarda vai chegando todo tipo de escórias da área: mendigos, vapores, prostitutas, cafetões, assaltantes, assassinos e até passistas da “Escola de Samba Reco - Reco.”.
Um crioulão tipo armário que, encontrava-se logo atrás de Marcelo Adualbo, com um hálito de escorraçar urubu de matadouro, resolve provocá-lo:
-Escuta aqui amizade, não vás comer tudo! Deixa algum pra gente, “tas sabendo” irmão?
Ele então se volta pro negão, olha-o e, retorna à sua posição dando de ombros.
Isso enfurece mais ainda o outro que, com os olhos esbugalhados pela ação do álcool e com os dentes trincados de ódio, insiste:
-A sua pessoa do irmão “palito ambulante” que fique sabendo que, meu médico me receitou comer muita carne com feijão hoje pra não morrer, “tas sabendo” compadre?
Uma velhinha de seus 100 aninhos, bem maltratada pelo tempo, resolve botar mais lenha na fogueira para desespero do Marcelo Adualbo:
-Sabe colega, ele “ta” com cara que vai comer tudo e não deixar nada pra gente. Olhe só os olhos dele pra panela? Meu Adroaldo Antonio, que Deus o tenha, morreu de fome numa fila dessas, por conta de que um outro também comeu a comida toda.
-A sua pessoa da velhinha pode ficar sossegada que, a pessoa do irmão não vai fazer uma besteira dessas para não levar umas boas porradas e, conhecer o criador mais cedo, não é isso amizade?
Um gordinho bochechudo que era diretor-presidente de uma carrocinha de pipoca na comunidade dá seu “pitaco”:
-Acho melhor a gente não mexer com esse magricela com cara de assassino, pois ele pode ficar com raiva, comer a comida toda e bater na gente. Meu cunhado, Bertoldo Arnaldo, chegou a apanhar numa fila dessa e ficou sem comida. O coitadinho saiu com fome e todo quebrado!
-A sua pessoa do gordinho fique sabendo que, a pessoa desse magricela vai levar muita porrada se acabar a comida. É isso aí! Rosna o negão.
Todos ali não tiravam os olhos dele e, já estavam procurando algum pretexto para começar a pancadaria em cima do pobre coitado.
Ele que era um covarde de carteirinha, engolia tudo em silêncio para não antecipar a tragédia que, estava prestes a ocorrer naquele ambiente hostil. Com os fundos da cueca em estado lastimável, tremia mais que bambu verde em ventania.
Mas chegando a sua vez, pareceu esquecer tudo, pois a fome falara mais alto. Lambendo os beiços seguidamente e, salivando muito, fez aquele prato arrumado mais parecendo uma montanha, com o topo recheado de carne. Traçou-o em pouquíssimo tempo com direito até a lambida de fundo de prato. Ao final, quando ameaçou levantar-se, ouviu aquilo que seria a sua sentença de morte:
-Acabou a carne com o feijão pessoal, agora só amanhã, podem ir embora, podem ir! Gritou a cozinheira já pegando as panelas vazias, sem imaginar que, naquele momento estava traçando o destino do infeliz do Marcelo Adualbo.
Nesse exato instante, aquela turba enfurecida, com os olhos injetados de sangue, parte para cima do pobre coitado e lhe mete tanta porrada, mais tanta porrada que, o malandro devolve na marra o que engoliu e, agora descansa a sua carcaça toda quebrada numa maca de pronto-socorro, xingando até a última geração daquele que perdeu a maldita e azarenta grana.

sábado, 12 de abril de 2008

"CONFISSÕES DE UM SUICIDA"

Olho o céu e não vejo as estrelas,
Vejo o mar, mas não sinto as suas águas,
Sigo uma estrada que não é meu caminho,
Toco uma roseira que não tem espinhos.

Aconchego-me na relva, mas não descanso,
Olhos águas tranqüilas, mas não vejo remanso,
Adentro a mata virgem e não me perco,
Admiro o sol, mas não recebo seu calor,
Corro pelas campinas, mas nunca chego.

Vou a uma igreja, mas não sei rezar,
Ando com os pés desnudos, porque não posso calçar,
Choro lágrimas de dor que molham a minha face,
Sinto todo esse pesadelo por não poder mais sonhar,
Por um infortúnio que agora pude sentir,
Quando a minha vida consegui tirar.

sábado, 5 de abril de 2008

"TRIBUTO À NATUREZA"

Beija-me os olhos a apologia da beleza,
que envaidece a minh’alma e o coração,
ao vislumbrar tantos segredos e encantos,
vendo a mãe natureza jubilosa aflorar,
majestosa, num cenário de apoteose,
para o mundo orgulhosa se apresentar!

Ver pássaros canoros felizes cantar e,
vidas renascerem a cada momento,
A felicidade em todos os cantos,
botões de rosas desabrocharem,
ver as águas límpidas do riacho bailar,
um sol imponente nascer,
uma gota de orvalho minar,
ver em tudo a alegria de viver!

Olhar o pico da montanha e ver o céu,
O mar e sua linha do horizonte,
uma palmeira vaidosa suas folhas sacolejar,
ver ao longe campos verdejantes e floridos,
sentir o aroma das flores do campo chegar!

Sentir cada som da natureza atento,
escutar os açoites musicais do vento e,
embevecido pelas belezas se apaixonar,
fazendo o coração desse poeta se inspirar e,
com poucas linhas seus versos traçar,
cada momento desse momento vivido,
momentos que jamais serão esquecidos,
que só nos fazem a vida amar!